segunda-feira, 27 de março de 2017

SOBRE A BELA E A FERA (E QUALQUER OUTRO FILME)



Eu não assisti “A Bela e a Fera”. Ainda. Faz aproximadamente quatro anos que mal saio de casa para me divertir, quanto mais ir ao cinema (as mamães de plantão entenderão). Eu estava um pouco mais empolgada do que o normal para assistir esse filme, mas admito que já enjoei dele por causa de tanto bafafá. Por isso, provavelmente só assistirei daqui uns anos. No entanto, senti o desejo de comentar a respeito de tudo que tem sido discutido.



É importante definir que há várias vozes envolvidas nessa polêmica. Entre o público cristão, há os que assistiram, demonizam o filme por causa do personagem nitidamente homossexual e encorajam os outros a não assistirem. Há os que assistiram, viram o mal retratado, o ignoraram por se tratar de um filme belo e acham muito barulho por pouca coisa. Há os que não assistiram e agora estão em dúvida se vale mesmo à pena, pois suas consciências foram agitadas por causa do primeiro grupo. E há os pais que preocupam-se mais se deveriam ou não levar os filhos para assistir.

Deixarei a polêmica dos filhos para o discernimento de cada pai, por se tratar não somente do seu próprio coração, mas da sua responsabilidade para com o indefeso. Acredito que uma vez que os pais compreendem de fato o que a Bíblia tem a dizer sobre tudo isso, eles então terão a sabedoria para aplicar a verdade na sua situação em particular, ensinando discernimento aos filhos, mas acima de tudo ensinando-lhes o contentamento — não por não poder assistir, mas em não precisar assistir, sabendo que em Cristo somos livres para viver contente e plenamente sem precisar satisfazer cada desejo fútil do nosso coração.

O problema de comentar qualquer coisa a respeito de um filme “polêmico” como “A Bela e a Fera” é não se tratar de algo preto e branco. Há um enorme leque de atividades cotidianas que caem numa área moral cinzenta. Não se enganem. A linha entre o certo e errado não está embaçada. Não há nenhum momento no qual Deus não sabe se está agradado ou não com nossas escolhas pessoais. Rev. Dr. Davi Charles Gomes, ao falar de antítese, comenta que essa linha divisória não é algo exterior a nós mas é algo que perpassa o próprio cerne do nosso coração. Em certas ocasiões, a linha torna-se mais difícil de encontrar, porque outras coisas mais “polêmicas” nos distraem e tiram o foco do que realmente importa. Enquanto algumas escolhas demonstram exteriormente de forma clara onde está nosso coração (adulterar, roubar, matar, mentir, etc.), as escolhas mais cotidianas e banais alienam nossos princípios morais. Mas nem por isso os princípios morais deixam de existir. Nós apenas tornamo-nos surdos a eles por causa do barulho vindo de fora. Desta forma, é possível duas pessoas estarem fazendo a mesma coisa e apenas uma estar pecando ao fazê-la.

O que isso tem a ver com “A Bela e a Fera”? Como eu posso comentar a respeito de um filme que sequer assisti?

Eu acredito na Bíblia quando ela diz que “toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra” (2 Timóteo 3.16-17). Isso significa que Deus não nos largou para vivermos de adivinhação. Não há assunto relevante a nossa santidade sobre a qual a Palavra de Deus não tem algo a dizer.

O que então a Bíblia diz acerca de assistir ou não “A Bela e a Fera”? Tenho certeza que na sua imensa riqueza, há muito mais a dizer do que o que eu selecionei. Mas esses textos em particular me guiam em muitos momentos de dúvidas.

Primeiro, Paulo diz em 1 Coríntios 6:12,

“Todas as coisas me são permitidas, mas nem todas são proveitosas. Todas as coisas me são permitidas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas.”

Ele está se referindo aqui à polêmica que os irmãos que estavam causando ao processarem uns aos outros publicamente ao invés de resolverem entre si seus problemas: “O fato de terdes processos judiciais uns contra os outros demonstra que já estais derrotados. Em vez disso, por que não sofreis a injustiça? Por que não sofreis o prejuízo?” (1 Coríntios 6.7) Para Paulo, era mais proveitoso sofrerem os danos para pacificar uma briga do que difamar o nome da Igreja expondo seu irmão ao mundo. 
Apesar do texto estar tratando de uma situação em particular, acredito que podemos aplicar isso a muitas das escolhas “Posso ou não posso?” que envolvem assuntos da área cinzenta, por nos fazer sondar o coração com algumas perguntas:

  1. Minha escolha prejudica meu irmão e difama o nome da Igreja?
  2. Minha escolha será proveitosa a mim e/ou aos outros?
  3. Minha escolha é fruto de uma idolatria?

A primeira pergunta pode parecer ambígua. Há irmãos que se escandalizam e se fazem de prejudicados por hipocrisias e arrogância. Não sofremos os danos por conta dos desejos hipócritas dos outros. Cristo morreu para nos libertar do temor dos homens. No entanto, há ocasiões nos quais estamos, como Paulo comenta em 1 Coríntios, sendo tropeço para os que ainda não possuem firmeza na fé. “Mas, cuidado para que essa vossa liberdade não se torne em motivo de tropeço para os fracos” (1 Coríntios 8:9). “O conhecimento dá ocasião à arrogância, mas o amor edifica” (1 Coríntios 8:1). Acredito que isso possa se aplicar tranquilamente aos pais que temem pelos filhos. Temos a responsabilidade de preservar e guiar a consciência deles. A preservação de sua consciência é mais importante do que satisfazer um desejo passageiro induzido pelo temor aos homens (como o medo de ser a única pessoa que não assistiu e a pressão do colegas). E há momentos nos quais podemos confiar que sua consciência está madura o suficiente para podermos exercer nossa liberdade em amor. Como falei outrora, isso cabe aos pais decidirem sabiamente.

A segunda pergunta pode também lançar dúvidas com o significado de “proveitoso”, especialmente quando se trata de algo que “não faz mal a ninguém”. Acredito que Filipenses 4.8 pode lançar uma luz sobre isso num nível mais íntimo: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”. Sua escolha fará com que você encha sua mente de coisas verdadeiras, honestas, justas, puras, amáveis, de boa fama, de virtudes e louvor?

Voltando aos filmes, o cinema é um meio de comunicação e você é o receptor da mensagem. Querendo ou não, as ideias lançadas na telona (ou na telinha) farão com que você pense sobre elas. Essa é a natureza retroalimentícia do cinema. Ela seleciona algumas das ideias que borbulham na sociedade, as regurgitam no palco e lançam nela o holofote de uma cosmovisão geralmente antibíblica. Essas ideias receberão mais atenção do que normalmente receberiam e assim ganham força e notoriedade na sociedade, gerando mais filmes, mais polêmica e mais conversa.

Você vai pensar sobre o que você vê. Seja agora ou depois, as imagens com as quais você alimenta seu cérebro serão os futuros recursos do seu raciocínio. Como uma criança aprende a identificar uma flor? Como elas poderão futuramente dizer “Isto é uma flor e isto não é”? É por causa da familiaridade que desenvolvem por verem as inúmeras flores ao longo de suas vidas!

Com essa segunda pergunta em mente, podemos filtrar então aquilo que seria o contrário de proveitoso, ou seja, algo que seja um desperdício, medíocre e prejudicial.

A terceira pergunta é bastante íntima e exige honestidade. A sua escolha é fruto de alguma idolatria? A sua escolha foi feita por você por algo que te domina? Tomar uma taça de vinho pode ser nada de mais para alguém, mas para um alcóolatra pode representar a incapacidade de dizer “Não”. Numa sociedade que cada vez mais exalta a busca individual por satisfação própria, vemos uma geração cada vez mais incapaz de dizer “não” aos próprios desejos. Tenho visto pessoas até se gabarem por não terem vida social porque Netflix não para de disponibilizar seriados bons. São escravos dos próprios desejos. Você está tomando sua escolha sob a dominação do seu ídolo? Se você está disposto a abafar sua consciência para assistir um filme ou seriado deplorável só porque você quer, se você não lida bem ao ser impedido de assistir alguma coisa, se seu hábito de satisfação própria tem lhe custado caras oportunidades para crescer me sabedoria e propagar o Reino de Deus sem lhe causar desconforto, pense bem em como você tem permitido que seus desejos te dominem. Talvez uma boa forma de você se auto-examinar seja imaginando qual seria sua reação caso fosse impedido de realizar sua escolha.

Naturalmente, a pergunta que não quer calar é como saberemos se um filme encaixa-se nessas coisas sem assisti-lo primeiro? Não sejamos ingênuos! Vivemos num mundo de informação instantânea. Podemos assistir um trailer com dois cliques. Podemos ler sinopses. Podemos buscar saber de quem já assistiu. Podemos até mesmo muitas vezes inferir o conteúdo do próprio cartaz, do próprio título, dos atores, dos diretores, e da classificação. Mas novamente, não sejamos ingênuos. Há filmes nos quais essas coisas simplesmente aparecem sem aviso. Para isso, precisamos sempre estar atentos.

Depois de tudo isso, o que podemos concluir? Em Cristo, temos a liberdade para desfrutarmos dos prazeres da vida se ao fazermos isso glorificamos a Deus. Não fomos salvos para o farisaísmo, nem tampouco para a libertinagem. Não coloquemos fardos inúteis nas costas dos outros. Mas não façamos da carne sacrificada aos deuses um tropeço para nossos irmãos em Cristo. Queira você assista ou não mais novo filme polêmico, faça isso usando da sua liberdade com sabedoria e para sua própria edificação.

E mais do que tudo, lembre-se de que tudo isso passará em breve.
Ensina-nos a contar nossos dias para que alcancemos um coração sábio. (Sl 90.12)

quarta-feira, 8 de março de 2017

Como ajudar nossos maridos a liderarem (sem liderarmos por eles)

“Ele não faz nada, então eu preciso tomar as rédeas.”



Muitas vezes encontramo-nos presas naquele espacinho apertado que aparece quando queremos ser submissas, mas também queremos ensinar nossos maridos a serem líderes piedosos. Deparamo-nos com aquele conhecido dilema: Quem é o verdadeiro líder no lar quando a esposa manda o marido liderar? Temos certeza que sabemos fazer melhor do que eles. Temos certeza que eles precisam que alguém lhes explique as coisas. Temos certeza de que eles não vão fazer nada direito. Há uma clara diferença na Bíblia entre a mulher submissa e a mulher goteira; entre a mulher virtuosa e a mulher rixosa. Como então ajudamos os nossos maridos a exercerem seu papel de líder sem usurparmos sua autoridade?


1. Submetendo-nos.
“Porque dificilmente haverá quem morra por um justo; pois talvez alguém até ouse morrer por quem faz o bem.” (Rm 5.7)
Vou fugir dos versículos tradicionais sobre submissão para usar um versículo bem fora do contexto (mea culpa), simplesmente porque ele diz o óbvio que muitas vezes nos esquecemos. Já é difícil alguém sacrificar-se por uma pessoa “boa”. No entanto, Jesus se entregou para salvar ímpios. Isso foi um ato divino. E no caso dos nossos maridos, é um ato impossível sem o poder do Espírito Santo em suas vidas.

Nossos maridos foram chamados para imitar a Cristo nisso, exercendo a autoridade e sacrificando-se por nós mesmo quando nós tentamos impor as nossas próprias vontades tolas. Muitos talvez tentaram, mas desistiram em desânimo ao longo do caminho, porque suas esposas não quiseram largar o osso. Se queremos ajudar nossos maridos a liderarem, precisamos desocupar sua vaga de líder e ocupar a vaga de submissa. Só pode haver um líder no lar. E para haver liderança, precisa haver quem seja liderada: nós, esposas.

Mas a submissão não é obediência cega, assim como o cristianismo não é legalismo. A submissão envolve diálogo, assim como o nosso relacionamento com Deus envolve oração. A submissão é alimentada pelo amor e servidão, e não por medo e chantagem. Por isso, a submissão não é um ato pontual, mas uma forma de viver. É muito mais fácil um marido amar e se entregar por uma esposa submissa.

Naturalmente, esse não deve ser nosso maior motivo para cumprirmos nosso papel divino de submissão no casamento (motivo o qual deve ser nosso amor por Cristo), mas nossa obediência age por amor visando também os frutos, entre os quais está facilitar a tarefa difícil do nosso amado.

2. Exortando-o.
“Exortai uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado.” (Hb 3.13)
Tenho certeza que você já percebeu, mas o seu marido também é um pecador. Portanto, vocês dois se encaixam nessa ordem bíblica. Seu marido precisa ser exortado por uma esposa que o ama e o respeita. Ele precisa saber quando tem exercido sua autoridade de forma egoísta. Ele precisa saber quando ele tem te negligenciado. Ele precisa saber o que Cristo tem a dizer sobre tudo isso e você pode ser instrumento de Deus na sua vida. Nós ajudamos nossos maridos exortando-os.

Exortar não é condenar, criticar ou brigar, mas transparece em palavras bíblicas, sábias, doces, humildes, brandas, misericordiosas, precisas, oportunas e encorajadoras. Ser goteira é pontuar os erros repetidamente visando mais desabafar e manipular do que encorajar e construir. Nossos maridos não precisam das nossas indiretas, das nossas palavras ríspidas, da nossa crítica diária de como eles são imprestáveis no que fazem. Eles precisam que nós os ajudemos a exercerem seu papel através da exortação piedosa.

3. Encorajando-o.
“Por isso não nos desanimamos. Ainda que o nosso exterior esteja se desgastando, o nosso interior está sendo renovado todos os dias.” (2Co 4.16)
O desânimo é verdadeiro neste mundo onde o exterior se desgasta com cansaço, doença e estresse. Nós ajudamos nossos maridos a exercerem seu papel encorajando-os. Podemos fazer isso de muitas maneiras.

Podemos encorajar nossos maridos a buscarem encorajamento com outros homens piedosos. Vivemos num mundo quebrado onde há cada vez menos modelos masculinos que ensinem o que significa de fato ser homem e como ser um líder que agrade à Deus e santifica a sua esposa. Amizades bíblicas e construtivas são preciosas. Precisamos amar a boa influência masculina na vida dos nossos maridos e abrir oportunidades para que nossos amados tenham acesso a ela. Mesmo se isso significa ele se atrasar para o jantar por causa de uma boa conversa!

Podemos encorajá-los reconhecendo e admirando os seus dons e seus esforços. Precisamos demonstrar apreciação e gratidão. Agradeça a Deus por ele nas orações. Não seja falsa nem manipuladora, mas verdadeiramente grata. Honre-o na frente dos amigos e dos seus pais, estando ele presente ou não. A palavra encorajadora da esposa anima o coração do marido e pode ser usado por Deus para renovar o seu interior. 

Como é venenoso quando uma esposa ignora ou despreza os esforços do seu marido na frente dos outros! A reputação do seu marido é um bem precioso pelo qual você precisa prezar. Ajudamos nossos maridos encorajando-os no seu papel como líder e no seu crescimento espiritual sempre que pudermos.

4. Auxiliando-o.
“Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; eu lhe farei uma ajudadora que lhe seja adequada.” (Gn 2.18)
Auxiliar nosso marido é nossa primeira vocação. Independente da nossa vocação profissional, a divina vem sempre em primeiro lugar. E somos excelentes no que fazemos quando nos empenhamos nessa tarefa. Conseguimos pensar em detalhes que eles nunca sonhariam. Somos mais cautelosas. Somos mais sensíveis. E ouso sugerir que somos muitas vezes mais prudentes.

Esses dons não nos foram dados para esfregar na cara dos nossos maridos (até porque eles possuem dons que nós não possuímos), mas para complementarmos um ao outro. Portanto, se você perceber uma situação na qual você tem a oportunidade de auxiliar e facilitar a liderança que você tanto deseja do seu marido, faça-o! Use seus dons com alegria! Coloque a Bíblia em lugar visível e de fácil acesso para facilitar e lembra-lo do papel dele de liderar o culto doméstico. Sossegue as crianças quando ele está tentando chamar-lhes a atenção e dar uma ordem. Incentive-o a cuidar da saúde para que ele possa estar bem fisicamente para cuidar de você. Dê-lhe bons conselhos e palpites quando ele precisar. Contribua com seus dons singulares. Há milhares formas práticas de auxiliar no dia-a-dia, as tarefas domésticas e o cuidado pelo lar certamente encaixando-se nessa lista.

5. Perdoando-o.
“Toda amargura, cólera, ira, gritaria e blasfêmia sejam eliminadas do meio de vós, bem como toda maldade. Pelo contrário, sede bondosos e tende compaixão uns para com os outros, perdoando uns aos outros, assim como Deus vos perdoou em Cristo.” (Ef 4.31-32)
É interessante notar que há um processo descrito aqui que podemos ver claramente na prática: a amargura que gera cólera e ira, que se expressa com gritaria e resulta em blasfêmias. Quantos relacionamentos não estão beirando o abismo cada vez mais perigosamente com episódios constantes de gritaria produzidos por causa da amargura profunda da esposa? No entanto, essa amargura precisa ser combatida com a bondade, a compaixão e o perdão.

Merecer perdão é um oxímoro, um paradoxo. O perdão se faz necessário justamente quando a pessoa não merece. Não é óbvio isso? E, no entanto, nós bradamos orgulhosamente: “Ele não merece meu perdão!” É claro que não merece! Assim como você também não. Nosso perdão, portanto, precisa vir de um coração perdoado. Porque Deus nos perdoou sem que merecêssemos.

A amargura da esposa é um dos maiores obstáculos para um marido que deseja e precisa amá-la sacrificialmente, porque a esposa amarga destrói o marido bem-intencionado com um único olhar. É muito difícil amar alguém que não quer ser amada.

O verdadeiro perdão é fruto do verdadeiro arrependimento. Se nossos maridos de fato precisam do nosso perdão, nós precisamos do perdão deles. Não existe perdão impenitente. Se perdoamos, é porque reconhecemos que também precisamos de perdão. Esse é o primeiro passo para o reconciliamento.

Precisamos, portanto, ajudar nossos maridos perdoando-os.

6. Orando por eles.
“Não andeis ansiosos por coisa alguma; pelo contrário, sejam os vossos pedidos plenamente conhecidos diante de Deus por meio de oração e súplica com ações de graças; e a paz de Deus, que ultrapassa todo entendimento, guardará o vosso coração e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.” (Fl 4.6-7)
A oração bíblica dá-nos paz. Ela não tem o poder de mudar a Deus, mas tem o poder de nos mudar, de mudar nossas atitudes, de ensinar-nos a confiarmos nEle. A oração é também uma das maneiras que Deus predeterminou para que nossas necessidades e nossos desejos fossem supridos. Ao orarmos pelos nossos maridos, estamos sondando nosso próprio coração, arrependendo dos nossos próprios pecados, e também colocando nosso amado diante do nosso Amado.

Em oração, Deus nos derrama a Sua paz e guarda nosso coração de forma que estaremos preparadas para enfrentar um novo dia apesar das dificuldades. É em oração que somos renovadas com mansidão. É em oração que somos quebrantadas com humildade. É em oração que somos constrangidas a perdoarmos. E é através da oração que, pela Graça de Deus, nossos maridos também serão transformados conforme a Boa Vontade do nosso Pai.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A Glória de Cristo num copo d'água




Ontem, ao final do dia, estava me sentindo bastante fraca. Sentei à mesa com meus dois pequenos e lhes servi o jantar. Ofereci a cada um copo d'água e somente então percebi o quanto estava desidratada, pois apesar de ter oferecido água aos meus filhos o dia inteiro, eu mesma havia esquecido de tomá-la. Tomei um gole e foi um alívio instantâneo. E então, num impulso materno, tentei explicar sem muito sucesso aos dois como a água é importante para nosso corpo e como precisamos dela para viver. João contentou-se com repetir a palavra "água" várias vezes e Samantha sequer me olhou nos olhos enquanto comia. Não se importaram muito para minha explicação, mas enquanto comiam e bebiam, pude maravilhar-me por uns instantes diante daquilo que estava vendo.

Cristo referiu-se a si mesmo como sendo a água viva.

Nunca havia parado para pensar que Ele provavelmente não estava simplesmente aproveitando a existência da água para forçar uma comparação imperfeita a si mesmo. Afinal, por que meu Deus Todo-poderoso teria improvisado? Isso não condiz ao Seu caráter. Não. Na eternidade, assim como fez com todas as outras coisas, Ele predeterminou a existência da água (a sua composição química, suas características químicas peculiares, sua interação com outras moléculas, sua importância essencial na fisiologia humana, seu ciclo natural, sua abundância e escassez em tal e tal lugar, a sensação de sede que nos dá na sua falta, a saciedade que sentimos ao tomarmos água, etc.).






E não somente isso, mas a água foi criada antes mesmo dos sete dias da criação ("Era a terra sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas." Gênesis 1.2). Não havia sequer luz antes da água.

E tudo isso foi planejado e realizado para que, naquele instante em que Jesus aproximou-se da mulher samaritana ao lado do poço (João 4.10), Ele pudesse referir-se a si mesmo como sendo a água viva. Cristo nunca falou nada sob improviso. Cristo é Deus e as águas foram criadas "por ele e para ele" (Romanos 11.36). Ele reina sobre toda a Sua criação e ela submete-se a Ele. ("Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem?" Mateus 8.26). Impreterivelmente. Tudo que está ao nosso redor foi projetado com perfeição para compreendermos melhor a glória do nosso Criador e Salvador. Não somente a água, mas cada elemento químico que compõe a estrutura do nosso universo. As leis físicas que regem a nossa realidade. As complexidades da nossa alma que fazem quem nós somos.

Ele as conhece todas, pois Ele as criou... e criou cada detalhe com um propósito.

Qualquer leitor amante das Terras Médias encanta-se com a história, suas complexidades e seus detalhes fascinantes que J. R. R. Tolkien demorou quase 40 anos para criar por inteiro. Tudo está de certa forma interligada, tudo é explicável, tudo foi predeterminado pelo autor. E nós estamos apenas olhando para um universo criado por uma mente humana. Como é grandioso olhar ao redor e perceber que Deus de fato é o AUTOR de tudo que existe, que na eternidade e na Sua sabedoria e Seu conhecimento perfeito e completo, pensou e planejou a maior história que poderíamos imaginar!


Nada, nada, nada acontece por acaso. Sequer o vento vem e vai sem Deus ter determinado o seu caminho. "Não se vendem dois pardais por uma moedinha? Contudo, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do Pai de vocês. Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados" (Mateus 10.29-30).


Como então posso viver minha vida sem maravilhar-me a cada momento da Glória de Deus? Como posso viver amedrontada num mundo que foi projetado até os mínimos detalhes pelo meu Pai Soberano? Como posso viver sem curiosidade, desinteressada e estagnada na minha vida espiritual quando vejo Sua mão poderosa em tudo que faço? No próprio tecido da realidade? Desde as lições mais preciosas que a maternidade me ensina a respeito de Deus até a simplicidade de um copo d'água, eu posso encontrar alegria plena em meu Salvador, pois Ele não somente me salvou, mas Ele também reina soberanamente sobre todas as coisas.

As urgências do momento rouba-nos o prazer de maravilhar-nos diante da beleza e formosura de Cristo que vemos refletidas na Sua criação. Problemas surgem que tratamos como se escapassem do alcance do nosso Pai. Que tragédia vivemos no dia-a-dia à busca da felicidade quando levantamo-nos, deitamo-nos e deixamos escapar como areia entre os dedos a verdadeira felicidade que é maravilhar e contemplar ao nosso Salvador! Desejar e ansiar por estar cada vez mais perto Dele! Foi para isso que fomos criados! Fomos criados para glorificar a Deus com todo nosso ser e encontrarmos prazer verdadeiro Nele!

Que perigo corro ao me esquecer sequer por um momento dessa grandiosa Verdade! São nesses momentos em que retiro os olhos de Cristo que me afogo no mar de ansiedade, de temores, de amor-próprio e de idolatria. Nas palavras do brilhante C. S. Lewis, "somos criaturas divididas, correndo atrás de álcool, sexo e ambições; desprezando a alegria infinita que se nos oferece, como uma criança ignorante que prefere continuar fazendo seus bolinhos de areia numa favela, porque não consegue imaginar o que significa um convite para passar as férias na praia."

Sou apaixonada pelo meu marido e por isso, na sua ausência, tudo me lembra dele e me faz ansiar pela sua volta: cheiros, palavras, músicas, comidas e gestos. Assim também quero que seja com meu Amado. Quero enxergá-Lo em tudo. Quero viver encantada pela Sua beleza. Quero lembrar-me de que Ele é Poderoso, que Ele é Rei, que Ele é Salvador, e que Ele está vindo por mim. Sim, Ele está voltando pela Sua Igreja! Não há forma melhor de enfrentar o que vier nessa vida do que plenamente satisfeito e encantado em Cristo. Que Deus nos conceda o prazer da Sua Graça e que abra os nossos olhos para Suas maravilhas diariamente!

"Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos! Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense? Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém!"
Romanos 11.33-36
"Tu me cercas, por trás e pela frente, e pões a tua mão sobre mim. Tal conhecimento é maravilhoso demais e está além do meu alcance; é tão elevado que não o posso atingir. (...) Como são preciosos para mim os teus pensamentos, ó Deus! Como é grande a soma deles! Se eu os contasse, seriam mais do que os grãos de areia."
Salmo 139.5-6, 17-18

domingo, 27 de dezembro de 2015

A bicicleta do casamento (ou Como o triciclo do meu filho me ensinou a verdade sobre a vida à dois)


Num acampamento de carnaval que participamos com nossa igreja em São Paulo, havia um laguinho com um pedalinho em formato de ganso. Durante um dos nossos momentos de tempo livre, nos quais era praticamente impossível ficarmos parados batendo papo com os amigos por conta da bênção chamada filho, decidimos dar uma volta perto do lago para mostrarmos a ele o cavalo, os patinhos e darmos uma volta naquele pedalinho. Sentamos no brinquedo, eu e meu marido com nosso filho de 13 meses no meio, e começamos a pedalar, cada um do seu lado. Foi um esforço danado, porque o pedalinho estava velho, enferrujado e caindo aos pedaços. Nosso senso de aventura, no entanto, foi maior do que o bom senso. Não é de se espantar, então, que, ao chegarmos ao meio do laguinho, percebemos que estava entrando água. Minha primeira reação, como mãe de bebê e pecadora ansiosa que sou, foi de começar a surtar e gritar, "Vamos afundar!" (insira aqui imagem dos discípulos de Jesus no barco prestes a afundar no meio da tempestade). Estava cada vez mais difícil de pedalar e sair do lugar. E a água entrava sorrateiramente. Meu marido calmamente me ordenou que ficasse quieta e que íamos pedalar à margem sem fazer mais escândalo para não assustar o nosso filho. Qualquer coisa, ele pularia na água e nos empurraria para a margem. Mordi então minha língua e calei minha boca em submissão. Sabia que meu marido estava me dando uma ordem por amor a mim e por amor ao meu filho. Partimos juntos ao trabalho. Ele pedalava do seu lado e eu pedalava do meu. Juntos, conseguimos chegar mais próximos da margem. Por conta do peso crescente do pedalinho enchendo de água, no entanto, não conseguíamos mais sair do lugar. Meu marido então pulou no lago (que já estava mais raso a essa altura) e empurrou o pedalinho enquanto eu pedalava o quanto ainda podia sozinha. Foi um esforço danado, mas conseguimos desembarcar sem mais estresse. Voltamos ao acampamento pingando de suor e baforados, com um bebê muito sorridente no colo.
Amor e submissão. O que nos vêm à mente quando ouvimos essas palavras tão aparentemente incompatíveis? A submissão é um conceito atualmente ridicularizado e polemizado ao ponto de contar com a oposição de militantes supostamente cristãos. A nossa sociedade idolatra o conceito (um tanto distorcido) do amor, mas rejeita ferozmente qualquer coisa que implique em aceitar ordem de outra pessoa.
Deus nos chama para amarmos uns aos outros. Mas Ele também nos chama para sermos submissos uns aos outros. E sinceramente, Ele não está nem aí para o politicamente correto. Seus mandamentos não se adaptam e somem com avanços culturais. Parece ser uma ideia radical, quase suicida, não é? Afinal, quem nos garante que nossos interesses e desejos serão preservados e honrados se abrirmos mão da liberdade que tanto amamos na nossa vida moderna? Se nós não cuidarmos de nós mesmos, ninguém mais cuidará! Essa é a ideia tão bem difundida na nossa sociedade.

Cuide do teu que eu cuido do meu.
Sou livre pra fazer o que quero.
Você não manda em mim!
Eu faço o que quero e digo o que quero!
Eu tenho meus direitos!
Meu corpo! Minhas regras!

Cristo submeteu-se.
É difícil encontrar alguém que discorde que Cristo nos trouxe lições muito preciosas. Não acreditam que ele seja o Homem-Deus que morreu para salvar-nos dos nossos pecados. Mas dificilmente alguém discutiria se de fato ele foi um bom exemplo de vida. Qual seria então a maior lição desse sábio mestre? O amor pelos outros, sem dúvida! Certamente, como pecadores salvos por Jesus, sabemos que foi o amor sacrificial dele que o levou à cruz e nos uniu a Ele através da sua morte e ressurreição. Sem dúvida, ele nos ensinou a amarmos aos outros como a nós mesmos e amarmos a Deus sobre todas as coisas. Sem dúvida, seu amor sacrifical cobriu nossas transgressões e nos permitiu acesso ao Pai. Tudo isso é bom e verdadeiro.
No entanto, fazemos pouco caso de um detalhe importantíssimo na trajetória do nosso Salvador. Você se lembra dos eventos dos últimos dias de Cristo? Em meio às suas demonstrações de amor aos seus amados e os preparos para sua hora final, a Bíblia nos dá uma espiada no relacionamento do Filho e o Pai.

Indo um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres”. (Mateus 26.39)

O Filho de Deus ofereceu-se como sacrifício pelos nossos pecados por amor a nós. No entanto, vemos por um breve momento que Cristo revela o seu desejo profundo de resolver o problema de outra forma: "...afasta de mim este cálice... contudo, não seja como eu quero...". O plano de salvação foi tanto maravilhoso para nós quanto aterrorizante para o Salvador. O Filho de Deus estava para sofrer a terrível ira de um Deus Santo provocada por milhares de anos de milhares de pecados de milhares de pecadores no passado, no presente e no futuro. Talvez seja difícil nós imaginarmos a verdadeira face da ira de Deus Pai. No entanto, Cristo o conhecia intimamente e sabia muito bem o que lhe aguardava. Tamanho terror diante dos eventos que estavam por vir não nos caberia no peito. Cristo suou sangue. E ele clamou a Deus.
Não consigo imaginá-lo gritando nessa hora em protesto: "Meu corpo! Minhas regras!"
Não... Enfrentando o maior terror que qualquer ser humano já sofreu, nosso Salvador sussurrou, prostrado diante do Pai: "...contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres”.
Se você é salvo, você foi salvo não somente pelo amor sacrificial de Cristo, mas pela submissão de Cristo à vontade do Pai.

A bicicleta do casamento

Fomos criados na imagem e semelhança de Deus. Isso significa que fomos projetados para relacionarmo-nos como Deus se relaciona. A equação da química dos nossos relacionamentos, portanto, apenas podem ser balanceadas ao imitarmos a Cristo na sua demonstração irrevocável, única e perfeita de amor e submissão.
O amor e a submissão são dois lados da mesma moeda. Assim é o relacionamento misterioso e maravilhoso de Deus na Sua perfeita e completa Trindade. O Espírito submete-se ao Filho que o ama e que se submete ao Pai que o ama. Assim é o relacionamento redentor de Cristo e sua Noiva, a Igreja. A Igreja deve se submeter a Cristo que a ama. E assim, deve ser o relacionamento entre homem e mulher no relacionamento-espelho que Deus, na sua imensa sabedoria e misericórdia, nos concedeu nesta vida terrena: o casamento.
A glória do casamento é a glória de Cristo e sua Igreja. Portanto, não devemos nos espantar ao vermos o inimigo investindo pesado na distorção e na destruição das famílias. A confusão começou já no Jardim do Éden quando a serpente incitou Eva a desobedecer a Deus e a subverter a liderança de Adão, que, por sua vez, deixou de lado o amor sacrificial ao permitir-se ser manipulado pela esposa insubmissa e virar cúmplice na desobediência.. para a desgraça dos seus descendentes.
Desde então, vivemos a novela dos casamentos precipitados, dos casamentos infelizes, dos divórcios, das traições e da consequente desvalorização gradual e fatal do casamento. No entanto, no meio de toda escuridão e perversidade, vemos o brilho de alguns casamentos que parecem crescer, florescer e amadurecer em meio a todos os problemas. Como será que conseguem? Será que o segredo está na comunicação? Nas viagens a dois? No sucesso dos filhos? É claro que não.
O casamento pode e deve "dar certo" porque Deus o projetou para dar certo. O casamento é como uma bicicleta. Se você não sabe andar de bicicleta e não consegue tirá-la do lugar, o problema não é da bicicleta. O problema é você. Se você não gosta de andar de bicicleta, o problema não é a bicicleta. O problema é você. Se você quer apenas sentar na bicicleta e ficar parado olhando a vida passar ao seu redor, o problema não é a bicicleta. O problema simplesmente é você!
E o seu problema é o pecado, algo que, como vimos no Jardim do Éden, nos impele a rebelar contra Deus e contra toda a Sua criação, inclusive o casamento. Quando Cristo nos redimiu e nos libertou do poder do pecado, ele nos capacitou para aprendermos novamente a andarmos na bicicleta do casamento.
Como qualquer bicicleta, o casamento possui dois pedais, ou dois pontos de impulsão. Vamos chamar esses dois pedais de Amor e Submissão, respectivamente.
O Amor é um amor sacrificial que abre mão de si e busca sempre o bem do amado. E a Submissão vai muito além da simples obediência e respeito, pois ela é uma resposta prazerosa ao amor que nos é dado e abençoa a todos no lar pela sua serenidade. Já pela definição, podemos ver que é muito mais fácil submetermo-nos a um marido que nos ama verdadeiramente. E é mais fácil de entender a tamanha responsabilidade do marido como líder, pois idealmente, ele dará o início ao ciclo com o seu amor, assim como Cristo nos amou primeiro.
Meu marido e eu, como uma só carne, estamos andando nessa bicicleta juntos. Ele é a perna direita e eu a esquerda. Ele é responsável por impulsionar o pedal de Amor e eu, o pedal da Submissão. Você já tentou andar de bicicleta pedalando apenas de um lado? Às vezes uma das nossas pernas está machucada ou cansada e precisamos focar mais energia na outra se formos sair do lugar.
Espero que seja óbvio para você a essa altura que não há pedal mais importante que o outro (ao contrário do que o machismo e o feminismo declaram). Quando eu deixo de ser submissa ao meu marido, ele, por ser cristão e um marido dedicado, continua a pedalar no Amor. No entanto, ele precisa se esforçar muito mais para fazer a bicicleta sair do lugar. Eventualmente, se eu não me arrepender e retomar meu papel, a energia do meu marido será totalmente exaurida. O nosso corpo por inteiro (ou seja, o casamento) estará desgastado. Precisaremos parar para descansar. Demoraremos o dobro do tempo para chegar onde queremos chegar. O contrário também é verdade. Se meu marido, um dia decidir não me amar mais (e já está implícito aqui que o amor é prático e não hipocritamente teórico) ou se ele simplesmente fizer alguma coisa faltando-lhe amor para comigo, eu terei o dobro do trabalho para pedalar na Submissão.
E se o marido faltar no amor para com a esposa e a esposa na indignação recusar-se a submeter-se a ele? Isso é uma história até clichê hoje em dia, não é? Os dois pararam de pedalar e, obviamente, a bicicleta não vai sair do lugar nem tão cedo. Pelo menos, não até que se reestabeleça a harmonia e voltem a pedalar juntos. Mas muitas vezes vemos uma bicicleta parada por muito, muito tempo. E a triste razão na maioria dos casos é que não há mais quem a pedale, pois ela foi abandonada.


Essa é a triste realidade que vemos hoje. O que dizer então de casamentos entre cristãos e não cristãos? Poderá essa bicicleta andar? A própria Bíblia nos responde essa pergunta: "E se alguma mulher tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o deixe. Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos." (1 Coríntios 7.13,14) Sim, a bicicleta poderá andar. Será uma viagem tremendamente difícil e cansativa. Mas Deus capacita e fortalece quem pedala fielmente e sozinho. E é pelo esforço suado e dobrado da esposa ou do marido cristão que Deus abençoará o seu cônjuge e a sua família.

Um triciclo e a graça de Deus


O outro dia, meu marido comprou um triciclo para nosso filho, agora com quase dois anos de idade. Meu filho, amante de carros e de tudo que possui roda, não demorou em sentar no triciclo. O seu pai pôs seus pequenos pés nos pedais de plástico e falou, "Empurre, filho!" Mas o pequeno nunca havia andado de bicicleta antes e não tinha a mínima ideia como fazer aquele trambolho sair do lugar. Jogava o corpo pra frente e empurrava o chão pra trás. Passamos a ensiná-lo pouco a pouco como empurrar cada pedal com seus pés e que essa ação trazia movimento ao brinquedo. Ele ainda não aprendeu e muitas vezes se contenta em apenas sentar e observar o mundo ao seu redor, mas creio que aprenderá eventualmente no seu devido tempo. Seu pai precisará ajudá-lo bastante ainda. Sua primeira bicicleta terá rodinhas auxiliares e o seu pai estará empurrando e ajudando-o a manter o equilíbrio.
E um dia, ele aprenderá a andar independentemente e seu pai não precisará mais estar lá ao lado dele para evitar que ele caia. E minha oração é que ele aprenda conosco o seu papel como futuro marido, se for da vontade de Deus, aprendendo a amar sacrificialmente a sua futura esposa. Mas o seu aprendizado verdadeiro virá de Deus. Deus é o nosso Pai. Ele nos ensina diariamente a amar às nossas esposas e a nos submeter aos nossos maridos. Ele nos empurra, nos sustenta, nos dá equilíbrio e renova nossas forças diariamente. Mas ao contrário do nosso pai terreno que um dia cessará de correr atrás da gente ao cambalearmos no brinquedo de duas rodas, Deus nunca se ausentará do nosso casamento. É através da Sua graça e somente ela que nosso esforço não será em vão. Poderá parecer um dia que Ele precise apenas nos dar o equilíbrio necessário para nos mantermos na bicicleta. Poderá vir dias em que estaremos tão habilidosos que nem perceberemos mais nossos pés pedalarem e estaremos apenas sentindo a brisa deliciosa no rosto e contemplando a paisagem ao nosso redor. Mas Deus nunca estará ausente. E Ele nos dará forças nos dias de tempestade em que o vento sopra fortemente tentando nos derrubar.

Há muitos filhos que saem de casa sem nunca terem aprendido a andar de bicicleta. E sem dúvida mais ainda que saem de casa sem terem a mínima ideia de como funciona o casamento verdadeiro. Talvez seus pais, mesmo sendo cristãos, nunca se importaram em ensinar. Ou não sabiam como ensinar. Talvez seus pais nem sequer sabiam o que estavam fazendo. Talvez seus pais passavam mais tempo discutindo quem ia pedalar sozinho dessa vez do que fazendo qualquer esforço para sair do lugar. Talvez a bicicleta do casamento dos seus pais estava abandonada há muito tempo e os filhos puderam apenas contemplar de longe sem nunca vê-la voar velozmente na pista ou ouvir o prazeroso zunido das engrenagens funcionando como foram feitos para funcionar. Qualquer que seja a razão, o fato é que o responsáveis pela educação dos filhos não cumpriram um dos seus papéis essenciais.
Se você vem de uma família assim e já está casado e desanimado, queria que soubesse que há esperança. Há muitos que aprenderam a andar de bicicleta literalmente mais velhos depois de uma vida de insegurança. Há também quem aprendeu a andar na bicicleta do casamento até mesmo depois de décadas de um casamento infeliz. Nunca é tarde para aprender, nem que seja apenas você sozinho por enquanto. A bicicleta andará. E, quem sabe, pela graça de Deus, seu cônjuge aprenderá também. Porque pela graça de Deus, o casamento não é ser um velho, enferrujado e esburacado pedalinho. Ele foi feito para funcionar.
O objetivo desse texto não foi de ensinar o passo a passo de como amar e como se submeter. Acredito que há muitos recursos fantásticos, sem contar a própria Bíblia, que nos ajuda nessa área. Mas eu creio que se tivermos o desejo verdadeiro inspirado pelo Espírito Santo nos nossos corações, isso será o suficiente para corrermos atrás e aprendermos tudo que podemos sobre aquilo que o próprio Deus criou e nos deu como uma fonte de prazer e sabedoria. E Deus não recusará aos Seus filhos a Sua graça.

Parece-me que nosso Senhor encontra nossos desejos não muito fortes, mas muito fracos. Somos criaturas indiferentes, que brincam com bebidas, sexo e ambição, enquanto o gozo infinito nos é oferecido; como uma criança ignorante que deseja continuar brincando na lama em uma favela, porque não imagina o que significa o oferecimento de um feriado na praia. Nos satisfazemos com coisas pequenas demais. — C. S. Lewis

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Livra-se do peso da calúnia

Recebi esse artigo um belo dia de manhã através do e-mail diário da DesiringGod.org e achei que valeria a pena traduzir para o proveito dos irmãos e irmãs em Cristo. Traduzi e solicitei permissão de DesiringGod.org para a publicação virtual da minha tradução desse texto, entretanto, sem obter resposta. Posto-a aqui, então, enfatizando a natureza não-profissional da tradução e que seja feito apenas uso pessoal do artigo traduzido. Crédito ao autor Jon Bloom e à DesiringGod.org, onde estão disponíveis gratuitamente centenas de artigos incríveis, frutos de imensa sabedoria, (inclusive vários em português) para a aprendizagem e o crescimento espiritual do público cristão. O texto original "Lay Aside the Weight of Slander" encontra-se disponível aqui. Bom proveito e que Deus abra nossos olhos para esse pecado tão destrutivo nas nossas igrejas.


Escrito por Jon Bloom



Deus odeia a calúnia (Provérbios 6.16,19). É perverso. É por isso que Paulo lista a calúnia como comportamento daqueles que odeiam a Deus (Romanos 1.30) e porque Tiago chama de comportamento demoníaco (Tiago 3.15-16). A calúnia ocorre quando alguém diz algo que não seja verdadeiro sobre outra pessoa o que resulta, intencional ou não intencionalmente, no estrago da reputação da outra pessoa. Quando isso acontece, a calúnia transforma-se num fardo de divisão, desencorajamento e confusão que afeta várias, se não inúmeras, pessoas.

Por causa do seu poder venenoso, é uma das estratégias principais do adversário para destruir relacionamentos, e deter e derrubar a missão da Igreja. Devemos estar atentos a esse tipo de pecado contagioso e livrarmo-nos dele (Hebreus 12.1).


A sutileza da calúnia

Às vezes, falar algo falso e prejudicial sobre alguém é ousado e indelicado. No entanto, muitas vezes, a calúnia é insidiosamente sutil, especialmente porque a ouvimos durante toda a nossa vida em quase todos os contextos e tornamo-nos acostumados a ela.

A calúnia pode usar dezenas de máscaras. Mencionarei algumas das mais comuns.

Às vezes passamos informações caluniosas que parecem apenas boatos inofensivos, mas acabamos por deixar os nossos ouvintes com uma percepção injustamente negativa do outro. Às vezes embelezamos o boato com informações ou suavizamos um relatório negativo sobre alguém, a fim de melhorar a impressão que nosso ouvinte tem de nós mesmos.

Às vezes, nós temos uma preocupação muito real por alguém, mas compartilhamos isso com uma pessoa que não pode nem se beneficiar de ou ajudar com a preocupação. Fazemos isso porque nós simplesmente queremos que nossos ouvintes pensem o pior de uma pessoa em particular. Ou, se compartilhamos a informação com a pessoa certa, podemos às vezes dar corda às nossas especulações ou presunções, misturando-os quase imperceptivelmente com os fatos perante nossos ouvintes, distorcendo a verdadeira preocupação para que a reação resultante seja aquilo que nós desejamos.

O efeito líquido de todas as formas de calúnia é a desvalorização injusta da reputação de outra pessoa.


Caluniar é roubar

Essa desvalorização está no cerne do que torna a calúnia perversa. A Bíblia nos diz: "A boa reputação vale mais que grandes riquezas; desfrutar de boa estima vale mais que prata e ouro" (Provérbios 22.1). No contexto, a boa reputação representa o caráter da pessoa, que é a parte mais valiosa da sua identidade. Uma boa reputação é como os outros nos veem. E como relacionamentos funcionam na base da troca da moeda de confiança, a reputação é um bem muito precioso.

Portanto, sempre que lidamos com a reputação de uma pessoa — ou seja, como as outras pessoas a veem — estamos sendo mordomos de um tesouro que pertence a eles. Se nós prejudicarmos a reputação de outra pessoa injustamente, estamos roubando o seu bom nome; estamos vandalizando o seu caráter. Isso causa um estrago muito real e, muitas vezes, duradouro às pessoas, pois restaurar um nome desvalorizado é muito difícil. Quem saberá quanto amor, alegria, conselho, conforto e oportunidade que tomamos das pessoas ao descuidarmos da sua reputação?

Deus sabe. E Ele odeia isso. Deus odeia quando falamos mal do Seu nome (Êxodo 20.7) e quando falamos mal dos outros (Tito 3.2). Ele nos responsabilizará por toda palavra frívola que falarmos (Mateus 12.36). Este é o grande incentivo para livrarmo-nos "de toda maldade e de todo engano, hipocrisia, inveja e toda espécie de maledicência"(1 Pedro 2.1).


Lute contra a calúnia primeiramente em si mesmo

A primeira calúnia que devemos calar é aquela que se encontra dentro de nós. Cheio de orgulho maligno, nossa natureza pecaminosa não está interessada na verdade, mas na glória própria. Procura então manipular os outros através da calúnia (ou da bajulação) para o nosso próprio benefício egoísta. O pecado (e, assim, nossos molestadores demoníacos) se aproveita de uma preocupação ou uma ofensa que recebemos de outro e procura distorcê-la de forma que suspeitemos o mal dessa pessoa. Suspeitar mal de outro significa atribuir a ele qualidades imaginadas ou exageradamente negativas que não existem. Muitas vezes, isso começa com fantasias privadas as quais alimentamos com nossas preocupações e as ofensas, imaginando-nos justificados em nossa justiça e os outros condenados no seu mal. Mas, na verdade, estamos apenas repassando os nossos pensamentos perversos para as imaginações de outras pessoas. Isso é a nossa natureza pecaminosa falando. Somos tolos se dermos ouvidos a ela.

E quando a nossa calúnia transborda de nós para os outros — e isso acontecerá inevitavelmente se não a eliminarmos o quanto antes — ela será indulgência egoísta e covardia.

Calúnia é indulgência, pois muitas vezes o que realmente estamos buscando é o prazeroso som auto-bajulador dos nossos ouvintes aprovando ou admirando a nós mais do que àquele que estamos caluniando. Estamos roubando a reputação de outro para obtermos a droga da auto-bajulação. 

Calúnia é covardia, pois é uma forma de nutrir uma preocupação ou uma ofensa e ganhar simpatizantes sem criar coragem para levá-la diretamente à fonte. Nossas racionalizações para isso podem ser inúmeras, mas essencialmente não temos a coragem para lidar de vez com o assunto. Isso significa que o nosso próprio caráter é de natureza questionável, já que estamos dispostos a vandalizar o caráter de outros para ganhar aliados.

Nós devemos ser implacáveis em ignorar e silenciar nossas naturezas pecaminosas caluniadoras.


Ajudando uns aos outros na luta contra a calúnia

Quando alguém calunia outra pessoa diante de nós, devemos lembrar que não estamos lutando principalmente contra carne e sangue, mas contra forças espirituais do mal (Efésios 6.12). Satanás sabe que a calúnia enfraquece e divide igrejas, envenena amizades e fratura famílias. Ele sabe que a calúnia extingue o Espírito Santo, mata o amor, dá curto-circuito na renovação espiritual, mina a confiança e suga a coragem dos Santos. Portanto, nossa meta, particularmente no contexto da igreja, é ajudar uns aos outros lançar fora fardos demoníacos e driblar obstáculos satânicos.

Como então fazemos isso? A melhor forma de combater a calúnia é tornar-se uma pessoa que não seguro caluniar por perto. Devemos perguntar uns aos outros:
  • Você compartilhou essa sua preocupação diretamente com a pessoa? Eu estaria disposto a ir com você para falar com ela.
  • Só para esclarecer, eu deveria realmente saber dessa informação? Você quer que eu te ajude a buscar a reconciliação?
  • Você está fazendo tudo que for possível para livrar-se de "toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia"? (Efésios 4.31)
  • Como posso ajudá-lo a proteger a reputação dessa pessoa como um tesouro? (Provérbios 21.1)
Em outras palavras, amigos não deixam amigos caluniar. Amigos não permitem que seus amigos ajam como inimigos de Deus (Romanos 1.30). Quanto mais amamos as pessoas, mais odiamos calúnia, porque um caluniador odeia suas vítimas (Provérbios 26.28).

Lembremo-nos de que somos mordomos do tesouro do outro: o seu bom nome. Tomemos a decisão de evitar o compartilhamento de informações que são desnecessariamente prejudiciais à reputação de outra pessoa e a arrepender-nos a todos os que foram afetados se já somos culpados disso. Busquemos silenciar a nossa natureza pecaminosa caluniadora e graciosamente dar e receber ajuda de outras pessoas quando um de nós tropeça, talvez inconscientemente, na calúnia. Façamos dano às forças de Satanás, falando a verdade em amor (Efésios 4.15).

Deixemos de lado o destrutivo peso do pecado da calúnia.


Uma palavra sobre calúnia e situações abusivas

Há momentos em que é necessário e não calunioso discutir ou compartilhar informações que sejam prejudiciais para a reputação de uma pessoa. Lembre-se, a calúnia são informações prejudiciais falsas. Mas, por vezes, verdadeiros pecados de uma pessoa são de tal natureza que devem se tornar públicos por uma questão de justiça e de segurança individual. Aqui estão apenas alguns exemplos de cenários:
  • Comunicando a existência de pecado e abuso confirmado e documentado a pessoas apropriadas em posições de autoridade que podem fazer algo sobre isso.
  • Participar como uma pessoa adequada em autoridade espiritual, e em alguns casos civis, na investigação de tal relatório de algum comportamento pecaminoso, e talvez abusivo, com a intenção de confrontar essa pessoa ou limpar o seu bom nome.
  • Discretamente, e sem detalhes desnecessários, informando a outros sobre uma pessoa com comportamento pecaminoso ou abusivo confirmado, porque, sem esse conhecimento, alguém pode sofrer dano real.
  • Buscando conselho pastoral sobre como navegar em uma situação complexa e ambígua, fazendo tudo o que você pode fazer para proteger a reputação de uma pessoa de danos desnecessários.
As instruções de Jesus em Mateus 18.15-17 deve nos guiar em tais casos difíceis. E Jesus espera que nos comportemos prudentemente neles, sempre buscando preservar a reputação dos outros, tanto quanto possível, sabendo que fofocas e difamação são sempre tentações que esperam às nossas portas.

Em uma era de mídia social, que não consegue restringir a divulgação de informações como as eras passadas, sejamos ainda mais lentos para postar ("tardio para falar" — Tiago 1.19) análises, especulações e comentários potencialmente caluniadores sobre outras pessoas ou grupos de pessoas, mesmo que a calúnia seja feita abertamente na nossa cultura saturada de calúnia. Todas as sérias advertências bíblicas sobre calúnia ainda se aplicam, o que deve fazer todos nós, especialmente aqueles de nós com "plataformas", tremer.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Como conviver com a bagunça (de um marido escrevendo monografia)

Por Drika Vasconcelos

Se você entrasse na minha casa hoje, você veria isso:


Sim, são pilhas de livros no chão, lá no fundo. Quatro pilhas, para ser mais exata. E olha que não cabem mais na única estante que temos para isso! E esse é o canto do pequenino João Gabriel que estará chegando em janeiro:


Eu sei. Cadê o berço, né? Cadê as coisas do bebê (metade está guardada numa mala e metade está numa dessas prateleiras)? Na verdade, cadê o espaço? Cadê o topo da mesa? Nem me fale, que ainda estamos tentando descobrir como ajeitar isso tudo sem gastar muito dinheiro!

Bem-vindos. Isso se chama vida. Com um marido estudando para se formar no final deste ano e comigo concluindo o ano de trabalho(s) até o bebê chegar, não é de me espantar que isso tem se tornado uma realidade com a qual tive que aprender a conviver. Se você leu Ansiedade: O pecado oculto, viu que não sou muito chegada em desorganização. Aliás, essas coisas tem servido muito como lição no dia-a-dia para eu aprender a confiar em Deus e largar de ser perfeccionista. E tem sido uma luta diária. Eu não gosto de não poder usar minha mesa de imediato. Eu não gosto de ter que me desviar para não derrubar uma pilha de livros. Na verdade, eu não gosto de ver qualquer coisa que seja fora do lugar (a não ser que esteja sendo usado naquele momento imediato).

Já meu marido não pensa bem assim. Para ele, se há espaço, é para ser usado. E isso inclui o chão, o sofá, a mesa e as cadeiras. Eu brinquei com ele esses dias sobre usar os livros para construir um berço pro João Gabriel. Na verdade, eu tenho pecado um pouco em frustração e raiva por vê-lo comprar tanto livro sem termos onde colocar e ainda com um bebê a caminho que só Deus sabe onde vai caber. Nossa vida é assim: uma aventura.

Como solteira, eu tinha a liberdade de passar horas e horas arrumando minhas coisas, sem ter que me preocupar com comida, roupa, e qualquer coisa mais séria. Como solteira, eu poderia pegar um livro e decidir na hora se eu queria me livrar dele ou pegar um documento ou qualquer coisa que fosse e decidir seu destino prontamente, sem ter que consultar alguém no final do dia a respeito. Como solteira, eu tinha meus livros e meus DVDs e minhas coisinhas que cabiam tranquilamente no espaço que eu tinha e, se não coubessem, eu pegava emprestado espaço da mamãe para me organizar.

Mas agora, tudo mudou. Como casada, eu ainda não aprendi quando uma roupa dele está suja e precisa ir pra máquina ou quando a roupa está no sofá pra ser usada no dia seguinte. Como casada, eu ainda não aprendi como lidar com o que me parece bagunça, mas que, para meu marido, é essencial que permaneça daquele jeito para que ele não perca alguma coisa. Como casada, eu ainda não aprendi a lavar a louça enquanto cozinho para evitar que se acumule até o dia seguinte, caso ele realmente não tenha tempo para lavar. Como casada e com seminarista nos últimos dias do seminário, eu tive que abrir mão dos meus horários reguladinhos e dos sonhos culinários que demorariam tempo demais para serem realizados (algo que eu também não tenho tido ultimamente).

Como casada, precisei aprender (e estou aprendendo ainda) a viver a dois. Como?
  1. Aceito que faço parte da bagunça. Muitas vezes, eu reclamo da bagunça dele, mas quando vamos arrumar um pouco, percebo que há muitas coisas minhas também misturadas e empilhadas juntamente com as dele. Okay, ele é bagunçado, mas eu também tenho me deixado relaxar nesses últimos tempos. Perceber isso já me desarma um pouco.
  2. Um pouco de bagunça dá pra tolerar. Não há pecado em deixar uma bagunça aqui e acolá, contanto que isso não impeça a vida diária de fluir. A casa foi feita para ser ambiente de vida. Ninguém consegue manter tudo bonitinho a hora toda. O importante é saber quanta bagunça é tolerável e quando realmente é hora de ajeitar as coisas (quando a cama se torna o único lugar da casa para se sentar, por exemplo).
  3. Não deixo as coisas para depois. Okay, às vezes eu deixo. Isso porque antigamente quando eu era solteira, eu tinha tempo e privacidade para arrumar por horas a fim. Hoje, haha! Quem dera. Portanto, tenho tentado criar o hábito de fazer na hora. Pensou? Lembrou? Fez. Ou isso, ou anoto em algum lugar para não me esquecer. Isso, aliás, me ajuda bastante na questão da ansiedade também, especialmente porque eu sou uma esquecida e se eu não fizer na hora ou anotar, as coisas vêm me incomodar direto e toda vez me frustro por não saber quando ou como irei cuidar daquilo.
  4. Tento concentrar a bagunça. A bagunça começa a se tornar um problema quando ela se alastra pela casa inteira. Isso significa que você (se for que nem eu) não tem paz onde você estiver. Antigamente, em casa, a bagunça ocupava ambos os sofás inteiros (eu precisava caçar um lugar para sentar para relaxar depois do trampo), a mesa (porque qualquer superfície é lugar de se colocar as coisas, né?!), e até a cama (essa era minha mania de botar as roupas limpas em cima da cama e não guarda-las na hora, deixando-as se acumularem). Hoje, tenho tentado no mínimo manter o espaço da cozinha livre de bagunça, além dos sofás e da cama (afinal, são para dormir e sentar e relaxar, né?!)
  5. Tenho um espaço só meu. No momento, como a casa tem sido tomada por livros e computador do marido (vida de seminarista não é fácil, não!), e como não tenho organizado minha mesa no quarto sabendo que em poucas semanas estarei desfazendo-o me daquele móvel para dar lugar ao berço e cômoda do baby, meu espaço pessoal tem sido do lado de fora: o meu canteirinho. Tá, não é bem um canteirinho. É uma jardineira na qual plantei sementes de hortaliças e que estão no processo de brotar e crescer. Todo dia de manhã, antes de sair pro trabalho, rego as plantinhas. E quando volto, é impressionante como sentar ao lado e só olhar para elas e sonhar com um canteiro bem cheio de manjericão, alecrim e orégano, me relaxa e assim consigo encontrar coragem de enfrentar o que tem dentro de casa.
  6. Tenha o importante bem guardado. Guardo (ou tento guardar) as coisas mais importantes (documentos, remédios, meu celular, minha bolsa, etc.) em lugares onde não serão vítimas da enxurrada da bagunça. Isso facilita na hora de urgência e é mais do que organização: É responsabilidade. Pastas para documentos, gavetas no banheiro para remédios, etc.
  7. Amo. Simples assim. Meu marido não é agoniado que nem eu, ele nunca foi. Se fosse, acho que nós dois iríamos perder a cabeça juntos. Graças a Deus pela tranquilidade dele! E tanto ele quanto eu temos falhas que precisam ser toleradas e aceitas pelo outro. Eu nunca vou conseguir torna-lo o senhor todo-arrumado. Muito pelo contrário, acho que ele tem mais chance de me converter pro lado mais relaxado! E ele nunca conseguirá consertar a minha droga de incapacidade de lembrar muitas vezes de coisas importantes. Eu simplesmente desligo às vezes. Por isso, eu tenho uma agenda. Não consigo pensar em mais de uma coisa ao mesmo tempo. A tolerância e aceitação dessas coisas é essencial no ato de tornar-se um no casamento.
  8. Incentive em amor. Meu marido gosta demais das minhas listas e minha agenda. Toda vez que eu abro para discutir planos com ele, ele me elogia. Isso me encoraja e me faz sentir que meus cuidados não são em vão e que contribuem para o funcionamento da casa. Já eu tenho tentado parar de reclamar da bagunça e torná-la mais uma questão de família do que um problema só dele. Afinal, somos uma equipe e temos que resolver as coisas em equipe (ou sofrê-las juntos!). Tenho tentado encontrar soluções práticas e amáveis para incentivá-lo tanto nos estudos dele quanto na manutenção da casa. Eu odiava, por exemplo, quando ele ia dormir de madrugada fazendo trabalho, tanto é que ele deixou de fazer isso muitas vezes por amor a mim e tentou se adaptar ao meu horário. Hoje, eu entendo a necessidade dele de esticar as horas noturnas (é quando a cabeça dele funciona melhor) para fazer trabalhos e tenho ido dormir sem ele, sem reclamar, para ajudá-lo nesse sentido.
  9. Minha vida vale mais do que o quão limpa minha casa está. Algumas vezes, de fato, a desorganização te impede de viver com mais tranquilidade. Mas a questão é simples: Eu fui criada por Deus para servir a minha casa ou minha casa foi me dada por Deus para servir a mim? Nenhum dos dois! Eu fui feita para servir a Deus com minha casa! E Deus não requer de mim perfeição ou um chão brilhante. Ele requer um coração grato e arrependido e servo. "Eis que é o obedecer é melhor do que o sacrificar..." (1 Samuel 15.22) Portanto, preciso me lembrar diariamente das verdadeiras prioridades da minha vida e sempre me questionar: Por que eu acho que só encontro paz se minha casa estiver organizada? Vale a pena sacrificar meu amor pelo meu marido por isso? Meu amor por Deus? Será que uma casa arrumada tem se tornado um ídolo para mim?
Enfim, eu sei que precisarei ainda me acostumar muito com isso, especialmente com um pequenino vindo por aí. A casa é orgânica, não estática. As coisas ficam limpas, ficam sujas, precisam de manutenção, dão conforto, mudam, transformam, etc. Estou aprendendo a aceitar isso. Quem sabe no futuro não posto uma foto de como o canto do bebê finalmente ficou!

Estou amando esta vida de aprendizagem e adaptação! A vida a dois (e em breve, a três!) é uma de viver pelo outro e por Deus.