segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Um namoro redimido? — Parte II


PARTE II: UMA ETIQUETA DUVIDOSA

Por Drika Vasconcelos

No último post dessa pequena série (ParteI: Definindo os termos), bati bastante na mesma tecla para enfatizar o conceito de namoro sobre os quais esses textos tratarão. Para relembrar, quando eu falo de namoro, eu estou automaticamente falando de “um relacionamento no qual duas pessoas do sexo oposto se comprometeram pública, romântica, emocional e exclusivamente (com ou sem relações físicas) uma à outra sem compromisso imediato de casamento”.

No entanto, na comunidade evangélica, é comum vermos elementos culturais, bons e ruins, sendo removidos do seu contexto e batizados com um termo mais “crente”. Não entrarei no mérito da questão, mas temos, por exemplo, música gospel, filmes cristãos, entre outros, e o namoro com certeza não se escapa. Chama-se o famoso namoro cristão.

Por causa costume que nós temos de querer deixar as palavras se explicarem por si mesmas sem nos preocupar com seus conceitos ou até mesmo com nosso próprio entendimento do que se trata, eu me frustro muito com o uso do termo “namoro cristão”. Isso porque quem usa raramente se dá o trabalho de explicar melhor. E muitas vezes me dá a impressão de que é simplesmente um tapete sob o qual muitas pessoas varrem muita sujeira e evitam discutir além do básico “sexo com namorado(a) é pecado”.

Antes de casar, nunca precisei fazer muitas compras, mas, nesse último ano e meio, me tenho visto caminhando pelos supermercados no mínimo duas vezes por mês. Aprendi algumas coisas essenciais para poder fazer boas compras. Os produtos carregam informações importantes que teoricamente permitem que pratiquemos nossa liberdade de escolha. Nos informam o tipo de produto, seu valor comercial, a data de validade, o seu valor nutritivo, se contém glúten ou não, o fabricante, o endereço do fabricante, e incluem muitas vezes uma imagem do produto e uma sugestão de consumo. Assim, eu posso selecionar algo que se encaixe nas minhas necessidades e no que considero ser bom para meu marido, meu filho e eu. Claro, enquanto eu não tiver condições de cultivar e produzir meus próprios alimentos, preciso confiar na empresa que está me fornecendo as informações e no órgão brasileiro que regula tudo isso.

Mas vejamos por esse lado... Suponhamos que você esteja fazendo compras e se depara, num dos corredores, com uma prateleira carregada de latas peladas sem qualquer identificação, nem mesmo o preço, apenas com uma etiqueta grande dizendo “Saudável”. Naturalmente, você achará estranho, porque perceberá que:
  1. há uma falta absurda de informação e orientação a respeito do que contem a lata e por que seria considerado “saudável”;
  2. é exigido que se confie inteira e cegamente em quem colocou a etiqueta. 
Ou seja, você está sendo tolhido do seu direito e dever de discernir. Minha pergunta então é: Você compraria? Imagino que não! Talvez ficaria olhando por uns minutos, achando estranho e tentando, por curiosidade, descobrir do que se trata. Mas sem saber ao menos o preço, dificilmente o colocaria no seu carrinho. Em outras palavras, essa etiqueta é inútil para o comprador!

No entanto, é o que fazemos muitas vezes com o evangeliquês. Mas dizer que algo é “de Deus” ou “santo” ou “cristão” sem procurar explicar, definir e pensar mais a fundo sobre o assunto, é no mínimo uma tolice. Você estará oferecendo aos seus ouvintes um produto apenas com a sua etiqueta e sem mais informações importantes. Quem parar para pensar e se importar de fato não comprará. Se você não explicar, quem garante que você acertou na etiqueta? Quem garante que você sabe sequer o que a etiqueta significa? Você está ciente do que pode vir a causar caso estiver errado quanto à etiqueta?

“Mas qualquer que fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho, e se submergisse na profundeza do mar."
Mateus 18.6

Volto a enfatizar a tão importante necessidade de se definir e conhecer os conceitos por detrás dos termos. E a importância de tomarmos cuidado com o falamos, especialmente aos que ainda não têm capacidade de discernir por si sós. Isso é importante em todos os momentos da vida... desde a sua oração mais íntima até o seu ato de comprar um pão na padaria (se o padeiro e você não concordarem no que é um pão francês, é provável que você seja decepcionado na hora de comprar um).

Eu já defini para você, no meu ver, o que é namoro. Cabe a você agora aceitar ou não essa definição e, se sim, discernir o que você ou os outros querem dizer quando acrescentam a etiqueta cristão. Então, eu te convido a refletir. É sério mesmo! Pare e pense:
  1. Você concorda com a definição de namoro mencionado acima?
  2. Se você discorda completamente com minha definição de namoro, o que você entende por namoro?
  3. Você tem sido aquele que compra um produto só por causa ou apesar daquela única etiqueta? Você tem sido aquele que coloca a etiqueta sem pensar no que de fato significa?
  4. Na sua opinião, o que faz com que um namoro, na definição dada nesse post, seja um namoro especificamente cristão?
  5. Na sua opinião, qual a diferença entre um namoro cristão e um namoro não cristão (ou “mundano”)?
  6. Usar o termo “cristão”, pela lógica, deveria significar que você está usando parâmetros bíblicos para categorizar alguma coisa. Portanto, qual é a sua base bíblica?
  7. Você acha que todo mundo concorda com a sua definição? Há alguém que discorde de você? Como?
  8. O que você acha da definição das outras pessoas sobre o que é um namoro cristão? Quais são os pontos em comum?
  9. Na sua opinião, o que significa quando um namoro “dá certo”?
  10. Para um namoro ser “cristão”, ele precisa “dar certo”?
  11. Você já se sentiu frustrado ou decepcionado ao perceber que a etiqueta “cristão” que você ou outra pessoa colocou no namoro não vingou?

Vou expor breve e rapidamente minha opinião antes de continuar para o próximo post. Não há consenso entre os cristãos sobre o que significa namoro cristão. E talvez, por causa do conflito que isso tem gerado, muitas vezes, acabamos por tolerar namoros entre cristãos que parecem não estar indo “tão mal assim”. Na minha opinião, por falta de um termo melhor, mas na necessidade de redefinir e definir bem esse termo, acredito que há sim, uma forma de namorar... biblicamente. Prefiro descartar então a palavra “cristão”, porque muitas vezes ela acaba se referindo a ou dando a entender um relacionamento que é aceito na comunidade cristã, que é profundamente tomada e dirigida pela cultura atual, e não aponta necessariamente ao que deveria ser a sua base principal: a Bíblia.

Portanto, eu sou também contra o “namoro cristão”, pelo uso inadequado e inútil dos termos. Sou bem chatinha, né? Tenho sido extremamente cautelosa com isso especialmente porque tenho visto casos de doer o coração, mas sem poder ajudar como eu gostaria, por causa da inutilidade e prejuízo provindo do termo “namoro cristão”. Mas ao contrário do que muitos perguntam e usam como argumento, acredito que seja inconcebível a ideia na sociedade de hoje das pessoas se casarem sem nem se conhecerem. Apesar de que a base para o casamento é a aliança e não depende das pessoas se conhecerem bem ou não, creio ser totalmente desnecessário esse caminho nos dias de hoje. O problema é que tornamos obrigatório esse conhecimento prévio através do namoro unicamente. Será mesmo essa a utilidade de um namoro bíblico? O que se pode aprender e conhecer da outra pessoa num namoro que você não consegue conhecer investindo numa amizade madura e íntima? Qual deveria ser de fato o papel do namoro na vida de quem tem como base de vida os mandamentos: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Marcos 12.30-31). Será que temos obedecido esses mandamentos nos nossos namoros?

Em breve, PARTE III...

“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”
1 Coríntios 2.14

“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.”
Hebreus 4.12

3 comentários:

  1. Ansiosa pela continuação! Ainda bem que você não cedeu a tentação de apagar o post e decidiu investir no assunto! Pelo que dá pra entender até aqui, os seus pensamentos vem ao encontro dos meus, o que é raro de se ver hoje em dia, ao ponto de desanimar. As suas definições são ótimas para consolidar algumas ideias que estavam esparsas em minha cabeça. E também é bom encontrar mais pessoas que são transformadas pela renovação da mente, para experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus! Assim, nos edificamos e animamos uns aos outros! :D Que Deus a abençoe, irmã!

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  2. Olá Drika, estou ansiosa pela continuação! Obrigada por compartilhar... Grande abraço e que Deus a abençoe ricamente.

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  3. E a continuação, irmã Drika? Haha

    Nossa, há algum tempo eu já estava refletindo sobre como o namoro tem destruído vidas de amigos meus, dentro da Igreja e fora dela. É como se você desse duas armas para duas crianças, e falasse pra elas: "brinquem a vontade".

    Muito bom saber que Deus tem dado o mesmo discernimento pra outros irmãos em Cristo sobre o assunto, deu até vontade de fazer um blog e colocar alguns pontos acerca do tema!

    A paz de Cristo!

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